23 March 2008

Patagonia 2008 - Entre Cordilheiras e Trutas - Parte 3

Depois de quase 12 horas de pesca consecutivas no lago trolope seguida por um bife de chorizo sem igual (tão bom que merece um relato a parte !), o terceiro dia de pesca despontou meio preguiçoso no horizonte. Mas como está no hino nacional "Verás que o filho teu não foge a luta", depois de um bom café da manhã já estávamos todos prontos para a pescaria do dia.

Para o terceiro dia, o guia havia programado duas pescarias bem diferentes entre si, separadas por um churrasco patagônico na sede da estância Trolope. A primeira pescaria se daria na Laguna Acharosa. Esta laguna é a única da região dominada pelas fantásticas trutas Fontinallis.
Depois do almoço a idéia era voltar ao rio trolope (mesmo do primeiro dia) mas em um tramo mais a frente para podermos então pescar com equipamentos mais leves e principalmente, mosca seca !

Logo ao chegar na laguna, notamos que o lugar parecia ser mais abrigado do vento, fator que nos animou muito a preparar rapidamente o material, e começar a caminhar em direção a laguna.

Laguna Acharosa : A promessa de trutas fontinalis


A pesca na laguna acharosa, se dá em meio a juncais e a outros tipos de vegetação presente em toda a extensão da laguna. A idéia é achar de maneira calma e silenciosa uma boa posição para se arremessar, estando você pescador no meio do juncal, ou ainda, à poucos metros da margem. A dificuldade do lugar se apresentava justamente ao se chegar perto das margens da laguna. Um barro movediço não permitia que você ficasse parado por um intervalo de tempo considerável num determinado ponto. Depois de alguns segundos, você se encontrava afundando ! E quanto mais se mexe, mais se afunda ! e dai não tem jeito, tem que recolher o material e chamar alguém para ajudar !

Finalmente, depois de encontrar um ponto que me permitia arremessar sem me ver preso e afundando na lama, comecei a pescaria de verdade !


A Fontinalis é uma truta guerreira ! Quando fisgada, corre para o fundo e começa a "cabecear" feito louca. Neste momento, o negócio é manter a calma, a pressão da linha e ir trabalhando o peixe bem calmamente. Foi justamente a falta de todos os itens acima que me fez perder umas tantas trutas ! Hora era o tippet que estourava (4x), tive até um anzol aberto...

Mas, com o tempo e com um pouco mais calma na fisgada e na briga, saco minha primeira fontinalis da laguna acharosa. A primeira e a maior do dia também !

Finalmente uma Fontinalis !


Ô Truta linda !


A cor é incrível !


Depois de mais algumas capturas, mudamos o ponto de pesca para a margen oposta da laguna, pois era possível observar as trutas subindo e comendo pequenos insetos que caiam no espelho de água.

Pescaria 100% no visual, você tinha que se aproximar da margem sem deixar tua sombra entrar na água, com a ponta do caniço para baixo e no maior silêncio possível ! Não havia como tentar a mesma truta duas vezes ! Ou mandava o cast certo logo de primeira ou já era !

E é neste cenário de pesca altamente técnico que se separa quem realmente gosta de pescar com mosca dos demais. Você chega, faz seu cast, apresenta a mosca, a truta sobe, e..., e... NADA ! Dá lugar para o outro mosqueiro tentar... No meio tempo troca a mosca, verifica o líder, os nós e vai de novo ! Um verdadeiro aprendizado ! meu melhor resultado foi fazer com que uma fontinalis baby subisse em uma elk hair caddis e batesse muito forte nela ! Realmente muito legal, uma batalha para conseguir fisgar uma trutinha tão pequena !

Porém, ano que vem volto a laguna acharosa, mais treinado e mais experiente e vou fisgar umas maiorzinhas na seca !

Com a proximidade da hora do almoço, e a fome apertando, resolvemos encerrar a pescaria e seguir para a sede da estância Trolope, onde um "Chibito" (Cabrito) assado ao estilo patagônico nos aguardava !

Confesso que a idéia de comer um cabrito assado não me atraia, já tinha experimentando antes e sempre achei a carne com um sabor muito forte e de odor igualmente forte ! Bom, para encurtar uma longa história, paguei a lingua ! o Assado foi show de bola !!

O Assado patagônico


O Maestro Assador no trabalho !


Toda a turma na "complexa" arte de se comer um assado patagônico !


O difícil mesmo, foi continuar a pescaria depois desse almoço ! Numca uma ciesta foi tão necessária como dessa vez !

Depois de uma rápida ciesta e de comer mais algumas frutas assadas na parrilera, tomamos o caminho para o tramo do rio Trolope que estava reservado para a parte da tarde. Particularmente este era o momento que eu de fato estava aguardando desde o começo da pescaria ! Pescar com moscas secas grandes e terrestrials usando casts um pouco mais longos do que o que estou acostumado.

A tarde teve um começo complicado, novamente acertar o ponto do arremesso e a apresentação correta da mosca eram os grandes desafios a serem encarados. Trabalhar o arremesso no ponto certo, até que não foi tão complicado, já a apresentação da mosca foi realmente uma tarefa complexa a ser superada.

As margens do rio Trolope são cercadas por juncais, diferente da região de junin onde os rios são abundantes em salses em toda sua extensão, os rios de Caviahue só tem juncais e vegetações rasteiras cercadas por margens lamacentas. Explicada a morfologia do rio, a estratégia de pesca aqui fica um pouco mais clara.

Basicamente, para cada linha de arremesso, apresentava-se a mosca em quatro ou cinco pontos distintos : a cerca da margem que estávamos, um par de metros a frente, ao meio do rio mais a cerca da margen oposta e por último o grande desafio pôr a mosca bem no meio do juncal.

Neim meia hora de pesca se passou para percebermos que o esquema bom mesmo era jogar do outro lado da margem, muito mas muito perto dos juncais mesmo. As outras posições até rendiam ataques, mas eram um tanto mais tímidos e de baixa freqüência.

Usando sempre umas moscas secas grandonas tipo Madam X, e umas variações locais da mesma, e muita concentração começamos a empreitada de capturar trutas arco-iris na seca ! Usar essas mosconas com patinhas de borracha foi uma tremenda novidade para mim ! Totalmente diferente de se pescar com moscas secas menores, onde qualquer movimento a mais do caniço causa um distúrbio indesejado na mosca, essas mosconas secas requerem toques na linha de forma bem leve para que a mosca adquira "vida" por alguns instantes.

E que adrenalina foi essa pescaria ! Você avista uma truta, põe a linha no ar, decola a mosquinha, e atira ! Mosca na água , A truta não deu a mínima atenção para a mosca, você dá um toquinho na mosca e espera ! Espera mais um pouco e dá outro toquinho e derrepente a truta sobe sem a menor cerimônia na mosca !

Essa situação que acabei de descrever, é pesca 100% no visual, onde a precisão e a apresentação do cast mandam no jogo. Hoje, parando para pensar naquela tarde, penso que eu estava com um material muito pesado. Um conjunto #6 com uma linha float chamada de High performance (depois entro em mais detalhes), que carrega o caniço que é uma beleza, mas para uma situação como a que se apresentou, talvez um equipamento mais leve com uma linha mais leve, fosse o mais indicado.

Uma idéia do lugar


Arremesso no 1o. juncal


Acertando a mão no arremesso


E Adrenalina seguida de Truta !


Um par de passos a frente e mais adrenalina com truta


E assim termina o 3o. dia de pescaria ! Com uma pescaria de mosca seca regada a adrenalina, muitas fisgadas perdidas, muitas moscas perdidas no juncais, mas com uma alegria sem comparações de ter capturado algumas trutas da forma com que me desafiei a fazer !

Em breve o 4o. dia de pesca : Mosca seca na varinha de bambu !


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