08 March 2009

Patagonia 2009 - O rio Chimehuin

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes



Mal tinha dormido. Noite fria, com certeza a noite mais fria da temporada, além da pança cheia, aliada a perspectiva do primeiro dia de pesca, que me tirou o sono quase que por completo. Até tentei dormir mais um pouco... Em vão, calhou que com o dia ainda muito escuro, não me recordo que horas eram, acabei saindo da cama, e fui tomar café.

Me dei conta que era de fato muito cedo quando entrei no "comedor" da hosteria chimehuin, e o lugar estava vazio. Até o rapaz que veio me atender acho estranho alguém ir tomar café aquela hora. Enquanto tomava o café da manhã, que diga-se de passagem é bem gostoso e ajuda bem a começar o dia, olho para tráz e vejo o Dr. Luciano descendo de um taxi. "Pronto !" pensei, "agora só faltam as trutas !!".

Depois de recepcionar o parceiro de pesca, e finalizar o café da manhã, enquanto me aprontava para o dia de pesca, o Luciano me contou de sua aventura de taxi desde o aeroporto de Bariloche até Junin. Acertamos como seria o dia de pesca, o Luciano precisava comprar um wader e botas de vadeio, logo, enquanto ele corria atráz desses itens durante a parte da manhã, eu iria pescar com o guia Mauro, e nos encontraríamos na pousada na hora do almoço.

E assim foi, alguns instantes depois chega Mauro, o guia, um sujeito bacana, que está em seu primeiro ano de trabalho com o Alejandro. Vamos então em direção a San Martin. Depois de uns 15 minutos de estrada, Mauro estaciona o carro, e vamos ao rio.

O Chimehuin é um riozinho que me surpreende sempre. Da outra vez que o visitei, não tive oportunidade de pescar de vadeo, e na ocasião, ambas as flotadas que fizemos, foram fantásticas, logo eu tinha uma grande expectativa em relação ao este rio.

Enquanto montava o equipamento, ouvia com cuidado as recomendações e conselhos do Mauro. Na realidade quase que uma repetição de tudo que o Alejandro já havia me adiantado. Quando estava com quase tudo pronto, Mauro averigua meu leader, e me diz : "Está curto, tem que ter uma vez e meia o tamanho do caniço". "OK, termino com 4x ou 5x ?" respondo, "6x está bom"


Entramos no rio, e antes do primeiro cast, identificamos uma eclosão próxima a margem oposta da onde estávamos. Mauro me pergunta se eu tinha uma adams parachute em anzol 20, digo a ele que a menor que tenho é em anzol 18. " Vamos tentar " ele me responde.

E começa a pescaria ! Estica a linha, cast, cast, lança, apresenta... "Um metro más" me diz o guia. Cast, cast, lança, apresenta. "Tem que corrigir a linha antes de cair na água, a mosca está dragando muito rápido". Cast, cast, lança, corrige, apresenta, mending mending mending, "Trucha !" Grita o Mauro. Fisgo tarde de mais ! E recomeça o Jogo...

Cast, cast, lança, apresenta, mending, mending, mending, Mending. Nada ! Mosca Dragou...
Cast, cast, lança, apresenta, mending, mending, mending, Mending. "Trucha !", fisgo errado mais uma vez ! "Devia ter tomado mais café !" foi o que pensei depois de perder duas oportunidades muito próximas uma da outra.

Uns passos acima, identificamos uma pequena eclosão de caddis. Trocamos a mosca por uma Elk Hair Caddis em anzol 16. Grande, segundo o guia, mas era o que eu tinha em mãos. E vamos trabalhar !

Cast, cast, lança, apresenta, mending, mending, mending, Mending... Nada...
Cast, cast, lança, apresenta, mending, mending, mending, Mending...Nada...

Um passo acima, lanço a linha um pouco mais dentro do salseiro. A mosca mal bateu na água e uma truta sobe. Sobe em "Slow Motion", Abre a boca, pega a mosca e desce. Fisgo ! "Trucha ! Trucha ! Trucha !!" Grito ! A primeira da temporada, na ponta da linha, "Esta noite vou dormir bem melhor !".

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


From Patagonia 2009 - Junin de los Andes

E segue o resto da manhã, agora um pouco mais relaxado, seguimos casteando, apresentando, e corrigindo (mending), e trocando de mosca sempre que identificávamos eclosões onde haviam trutas ativas. Ainda muito desatento, perdi uma quantidade considerável de trutas.

Na hora do almoço, voltamos a Junin, fazer o lanche, e bucar o Luciano, que em breve se juntou a nós para comer algumas empanadas, salada, e umas carnes. Tudo muito simples, mas tudo muito bom.

Voltamos ao Rio, de volta a batalha ! Luciano foi pescando rio a cima, e eu me adiantei um pouco mais para voltar pescando rio abaixo. Durante a tarde, a pescaria ficou um pouco mais técnica, ao menos no trecho de rio em que eu estava pescando. "Tem alguma midge ai ?", me pergunta o Mauro. Tiro do bolso o menor fly box que trouxe na viagem, aquele que eu achei que nunca iria usar. Selecionamos uma, alongamos o leader, que agora estava com tippet 6x na ponta.

Se pescar com mosca seca em anzol 18, anzol 20 já é complicado. Pescar com midges em anzol 22, 24 representa um desafio. E não é apenas uma questão de ver onde está a mosca. É toda uma técnica refinada de acompanhar a mosca, evitar o drag e principalmente, ter a calma e a atenção de fisgar no instante exato, mas com calma, sem precipitação, afinal as midges são apenas um ponto derivando na correnteza, tem que esperar a truta fechar a boca e descer. E quem é que tem o sangue frio de esperar ?!

A tarde seguiu, tão perfeita quanto poderia ser, peguei algumas trutas mais, todas pequenas, trutas de "palmo", arco-íris, marronzinhas com cores bem acentuadas. Em cada truta um pouco mais de conhecimento, um pouco mais de experiência.

"Tenho que batalhar cada truta", pensei enquanto caminhava para fora do Chimehuin. "Tenho que ficar mais atento". O primeiro dia de pesca, representa sempre o desafio de se adaptar as condições locais. Por mais preparado que você esteja, por melhor que sejam seus equipamentos e moscas, por mais experiência que você tenha, a soma de todos estes fatores representa meros 50% de uma pescaria. Os outros 50%, dependem única e exclusivamente da natureza.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


De volta a hosteria, combinamos com Mauro como seria o segundo dia, nos despedimos, e conversávamos sobre o que funcionou sobre as condições de pesca, capturas, piques perdidos, e tudo mais que ajudou a compor um dia de vadeio no Chimehuin...

1 comment:

Anonymous said...

com seus relatos, Gustavo, sinto-me presente à cena!

prepare um livro!


[]s
alex