14 March 2009

Malleo e A Truta

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


Aguardei a chegada do Mauro para ver que conjunto de caniço e carretilha eu utilizaria naquele dia. Bambu ou Carbono ? Se fosse um rio pequeno, bambu... Se fosse um rio maior, carbono. Atualmente prefiro pescar com caniços de bambu. Porém gosto da comodidade que um caniço de carbono proporciona em arremessos maiores, principalmente na pesca embarcada.

Chega o Mauro e nos informa que o rio do dia era o Malleo. Sem dúvida nenhuma, Bambu. Pego o caniço e a carretilha, junto com o resto do equipamento, rapidamente saimos da hosteria e nos colocamos a caminho do Malleo.

Da primeira vez que estive no Malleo, não fui tão feliz quanto gostaria. Não peguei tantas trutas quanto esperava, porém tinha aprendido muito com o rio. "O Rio do Livro", como diz o Alejandro. As trutas comem atráz das pedras, ao fim de cada "rápido", perto da espuma, e tudo mais que se lê em livros de pesca com mosca. Em particular eu esperava um dia de pesca um tanto técnico, tenso e possivelmente com poucas capturas.

De todos os trajetos entre a Hosteria Chimehuin e os pontos de pesca, os que mais me facinam são os que passam as margens do Malleo. O contraste entre as formações rochosas, que são percebidas e entendidas de acordo com a imaginação de cada um, com o rio que segue serpenteado aquela paisagem quase que extra terrestre. O Vale Lunar como dizem alguns.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


Rio lotado, muita gente pescando em todos os primeiros tramos do Malleo. "Mas que coisa !" exclamava o Mauro, "Vamos mas a frente, mas a frente há pontos muito bons". Dez minutos mais, longe das áreas de acampamento, das propriedades mapuches, das escolas e tudo mais, descemos do carro, e muito rapidamente começamos a preparar o material para este primeiro tramo.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes



Tramo muito interessante por sinal, formado dois ou três poços à direita e um rápido seguido de alguns trechos mais profundos a esquerda. Luciano, vai tentar a sorte a esquerda, enquanto eu e o guia seguimos para os poços a direita.

Enquanto atravessávamos um pequeno trecho de água, de maneira a alcançar uma boa posição para castear, reparávamos nos insetos que eclodiam em todo o trecho do poço. "Adams ! Adams e mais Adams. Griz e marrom. Tem alguma ai ?", me pergunta o Mauro. Enquanto terminava de me firmar, começo buscar adams parachute bem pequenas. "Mais um dia de moscas pequenas" é a primeira coisa que vem a mente. Localizo então uma pequena parachute marron a qual elegemos para começar o dia.

"Que delicia de pescaria", penso, cinco minutos depois do primeiro cast. Não, eu não tinha pego nenhum peixe ainda. Porém era uma pescaria muito gostosa de se fazer, muito bonita também. Pescaria de cast curto, com caniço de bambu não tem igual. O caniço carrega sem pressa, você atira a linha a frente, fecha o loop com a mão esquerda, a linha cai vagarosamente na água, logo em seguida, a mosca pousa suavemente, desliza esticando o leader e o resto do fly line. Algumas ações e a captura de pequenas trutinhas marrons completam o cenário.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


E seguimos pescando, casts curtos, corrigindo levemente o posicionamento da linha, prestando muita atenção. Provamos todo um poço sem nenhuma ação, sem qualquer movimento. Sem desanimar, sigo casteando. Alguns passos a frente já ao fim do poço, bem junto a margem oposta, começa um pequeno rápido. "Promissor o ponto", penso, enquanto abria a boca para perguntar ao Guia o que ele achava, eme me diz, "Uma Midge, a menor que tiver, ali, um pouco antes da espuma".

Mosca atada ao também reformulado tippet, e lá vai o cast. Vai mais um. E outro. E mais um. E finalmente, quando a midge começa a derivar, o leader estava começando a carregar o fly line. "Trucha ! Trucha ! Trucha ! Grande !! Muito linda". Não penso, sequer respiro, literalmente levanto a vara com toda força. Na ponta da linha uma Trutona Marron. O Caniço vibra, verga, canta a linha entre os passadores. Eu tento manter a calma. A Truta pula ! E Pula de novo ! Sigo recolhendo a linha. E ela pula ! E derrepente a linha fica leve, o caniço não verga mais. Meu troféu se foi... Eu não acreditava, Mauro me pergunta o que aconteceu, estava tão emputecido que não conseguia responder. "Só espero que não seja o nó que abriu", penso. Instante depois, examinando todo o conjunto, descobrimos que o Anzol tinha aberto, estava parecendo uma agulha. "Comprou anzol de oferta ? " Me pergunta o guia já dando risada da minha cara, respondo "Acho que foi ! hehehe".

Encontramos com o Luciano, que nos relata suas capturas, e entramos no carro para mudar de ponto. Seguimos mais por mais uns vinte minutos. Mais uma vez, os pontos próximos da onde estávamos já estavam todos tomados por "Yankees" como dizia o Mauro. Encontramos o que parecia ser um bom ponto. Mauro para o carro e rapidamente vamos para as águas do Malleo terminar a manhã de pesca.

Este segundo tramo, estava com as águas ainda mais claras, pouca sombra, água muito calma. Um verdadeiro desafio. Nos separamos, novamente, Luciano vai a esquerda e eu a direita. Notamos uma pequena eclosão de caddis. "Já sei, a menor que eu tiver !", digo ao Mauro, "Que bom ! Está aprendendo ! hheheh", me responde. E vai um cast, corrige a linha, corrige novamente, recolhe, seca a mosca e recomeça. "A água está muito clara. Dá para ver a sombra do leader no fundo", me diz o Mauro. De fato, a sombra estava completamente visível ao fundo, refletindo perfeitamente seu posicionamento. Sigo pescando, e nada. "Meu troféu se foi", "Acho que de agora para frente, não sai mais peixe", fico pensando já meio desanimado.

Quando chega a hora de nos reunirmos para almoçar, enquanto caminhávamos a beira do rio, começo a prestar atenção em um pequeno braço de água clara e profunda, abrigada por uma formação de pedras e vegetação, sem nenhum movimento de superficie. Sem espuma, sem galhos caidos, sem "rápidos". Dez metros a nossa frente avistamos o Luciano casteando no leito principal do Malleo. Olho para a mosca, e resolvo ir casteando nesse braço de águas calmas. De passo em passo avistávamos pequenas trutas serpenteando ao fundo do lugar.

"A água está muito clara, olha como seu leader está espantando as trutas", me diz o Mauro. Não dei muita bola, a cada dois passos, fazia um cast curto. Estava me divertindo com a curiosidade das trutas. Cada vez que a mosca pousava na água, ao menos uma trutinha se aproximava, estudava a mosca e batia em retirada muito rapidamente.

O Luciano já tinha recolhido o material, enquanto nos aproximávamos, vi uma truta pequena bem próxima a pequena parade que limitava o poço. comecei a castear, "Gustavo ! Tem uma bonita aqui ó ! ", Olho para o Luciano e ele me aponta a direção, muito próximo da nossa posição bem a cerca da margem da onde nos encontrávamos, não mais de três metros.

Recolho um pouco de linha enquanto troco a direção do cast. Se quer lanço a linha, apenas deixo-a cair próxima a margem. O Fly line cai próximo ao meu pé e se estende a esquerda, levando o leader a cair sobre um pequeno juncal, sem tocar na água. Um pequeno trecho do tippet leva a mosca a tocar suavemente na água, alguns centrimetros a frente do juncal. Penso em recolher e lançar novamente.

"Deixa ai !! Deixa ai !! Não meche", me diz o Luciano, quase sussurando. Recolho um pouco do fly line. O tempo muda de compasso e correr lentamente. Não tiro os olhos da mosca, que permanece ali, parada. A Truta se aproxima calmamente, serpenteando em "slow motion" até a mosca. Ela para, examina sua presa. Aperto o grip do caniço. A Truta sobe e para. Engulo seco.

A Truta sobe, abre lentamenta a boca e toma a mosca suavemente. Exito. Ela desce. Eu Fisgo. Ela corre para o fundo do poço. Aplico um pouco de pressão no caniço, acho que alguém fala alguma coisa. Não escuto. "Espero que este anzol seja melhor que o outro, espero que o nó não Abra. Espero tirar a Truta" sigo pensando um tanto tenso. De um lado a outro do poço A Truta corre, despertando outras pequenas trutas que por ali se encontravam. Lentamente recolho a linha, que por vezes era novamente esticada pela Truta. E o tempo volta a seu rítimo normal...

O guia entra no poço empunhando o net, se posiciona, e gentilmente dirijo a truta até ele. Já segura, tomado pela euforia tipica do pós captura, saco a máquina fotográfica para registrar a ocasião. Depois da foto, a Truta e calmamente devolvida. Assim que se solta das mãos do Mauro, calmamente, volta ao juncal próximo a margem que estávamos e desaparece. "Meu Troféu se foi... Agora sim ! Agora sim pesquei de verdade" penso um tanto realizado.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


From Patagonia 2009 - Junin de los Andes


From Patagonia 2009 - Junin de los Andes



Paramos para almoçar, e seguimos a tarde pescando, ora em pontos onde capturamos mais trutas médias e pequenas, ora em trechos sem nenhuma atividade. E o dia seguiu, perfeito, como só um dia de pescaria pode ser.

Não foi a maior truta da minha vida, seguramente não foi. Não sei dizer o quanto pesou, ou quantos centímetros media. Ainda sou novo, creio ter muitas temporadas de pesca no futuro. Mas seguramente afirmo que A Truta, entrou para a minha história, nunca vou me esquecer dela.

Possivelmente, meus netos, um dia, vão escutar a história da Truta que fez o tempo parar.

From Patagonia 2009 - Junin de los Andes

2 comments:

Anonymous said...

Esplêndido relato, molto chorabille. o Malleo me duas trutonas. uma marron que se foi ano passado, pior que o teu caso pois foi o nó que abriu... e uma arcoiris este ano, uma semana depois que vocês passaram pelo malleo. o anzol abriu...

Anonymous said...

Gustavo,

Esse post foi sensacional... Lendo o texto me senti como se estivesse pescando no seu lugar.
Grande abraço